quinta-feira, 19 de julho de 2012

Raimundo Lucas Bidinho

   
Cadeira Nº 03 - Imortal: Liduina de Sousa.
                               - Patrono: Raimundo Lucas Bidinho. 
 
 
Nasceu no Sítio Chico, no dia 28.07.1914, filho de Lucas Francisco de Oliveira e Josefa Soares Lucas. Traz a cultura popular da literatura de cordel, no livro que se intitula "O CEARENSE” (1990), onde revela sentimentos autênticos referentes ao trabalho, luta e estilo de vida do seu povo. 
Raimundo Lucas Bidinho, poeta, repentista e improvisador varzealegrense, dedicou toda a sua vida ao trabalho na defesa das causas sociais. Liderou o movimento sindical rural numa época difícil, enfrentou os grandes latifundiários, foi preso varias vezes e nunca esmoreceu. Na historia, assemelhada a proporção Várzea-Alegre e Brasil, o Bidim seria o nosso Lula. Em seu livro, “ O Cearense”, conta a historia da desmatação da CE – 55, que liga o município de Várzea-Alegre a Farias Brito, causando muitos prejuízos a quem possuía lavoura a sua margem. Além da baixa indenização, não pagavam com dinheiro, imaginem os senhores, pagavam com arame farpado e muitas vezes era só embromação como no caso do Bidim. O funcionário encarregado de pagar os prejuízos chamava-se Bastos que motivou Bidim a metrificar: Veja com atenção, na sua revolta, o que disse o poeta!

Seu Bastos no mês passado
Em nossa ultima conversa
Ainda tive a promessa
Do meu arame farpado
Mas estou desenganado
Será que é promessa só?
Se o Senhor não tiver dó
Eu vou perder o juízo
Por causa do prejuízo
Do meu algodão mocó.

Quando no primeiro mês
Passou a desmatação
Minha roça de feijão
Quase acabou de uma vez
De nove baixou pra três
Do meu suor o produto
Passou cobrindo de luto
A minha casa vazia
Na roça que fiz num dia
Se destruiu num minuto.

Sem a ninguém me queixar
Um jovem funcionário
Forjou um vocabulário
A fim de me consolar
Seu Bidim não vá ficar
Como quem teve e não tem
Perdeu dez recebe cem
Já fiz o requerimento
O nosso departamento
Não prejudica ninguém.

Prejuízo não encare
Eu medir sei o que dar
O governo pagará
Cem mil por cada equitare
Pra receber se prepare
Eu vi a destruição
Com essa indenização
Encaminhada por mim
Hoje o senhor é BIDIM
Amanha será BIDÃO

Eu que em tudo acredito
Pobre só pensa em melhora
Eu disse a minha senhora
O homem falou bonito
Ele dizendo está dito
Vi a roça se acabar
Mas nós vamos melhorar
Já posso comprar fiado
Tomar dinheiro emprestado
Até o homem chegar.

Qual lá homem qual lá nada
Cheguei da roça cansado
Já encontrei um recado
De um dos homens da estrada
Que eu tomasse chegada
A roça do algodão
Jogasse a cerca no chão
Pra levantar outro dia
Naquela tarde alguém ia
Fazer a desmatação.

Sei que estrada e rodagem
Já trás por seus princípios
Promoção aos municípios
Em geral tudo é vantagem
Ao povo da sua margem
Fornece franco transporte
Mas o lavrador sem sorte
Com uma roça no centro
Encontrando um trator dentro
È mesmo que vê a morte.

Bidinho era filho de uma família humilde, da qual herdou uma bondade sem extremos. Seu período de estudos, tendo iniciado aos sete anos de idade, não foi o necessário; tendo sido muito pouco, porém o bastante para ler e escrever e poder colocar no papel sua intuição poética. A primeira e última escola que freqüentou, ficava no povoado onde nasceu, tendo sido sua primeira professora, a Sra. Ana Alves de Morais.
Começando a intuição de escrever poesias, levado por uma força estranha, que nem ele mesmo sabia explicar, ainda muito criança, aos  oito anos de idade. Para seus pais era um orgulho ter um filho poeta e que escrevia coisas bonitas, mas seu pai não pode acompanhar o filho em sua carreira poética por muito tempo, isso porque veio a falecer no ano de 1924, quando o mesmo então contava com dez anos de idade. O golpe foi grande, mas superado à custa de muita dor e sacrifício. Era o filho  primogênito e por isso teria de ser o dono da casa, o que não foi fácil ter que cuidar de cinco irmãos menores, sendo eles, Miguel Lucas, José Lucas, Arita, Irinéia e Chagas, mas conseguiu vencer essa fase.
Cada situação e cada momento da sua vida era um motivo para nascer mais uma poesia, a qual enriqueceria sua colocação. Fazia de tudo para colocar aquela emoção, aquela alegria ou mesmo aquela dor e assim cada vez mais seus conhecimentos a respeito da poesia, iam aumentando, tomando novos rumos.
Em 1952, uniu-se em matrimonio com a Sra. Maria Luiza Lucas, com a qual construiu uma prole de composta por quatro filhos: Antonieta Maria, Francisca Socorro, marcos Antonio e José Irapuan de Oliveira, os quais já lhes deram sete netos; Edson, Ednardo, Érica, Adriana, André,Rafael, Marta, Andreza, Maria Luiza, Ana Camila, Ricardo, Jéssica e uma bisneta (Helen Cristina).
A experiência talvez já lhes tenha causado cansaço, mas nunca a inspiração pura de um nordestino.  
Além de poeta era agricultor e sindicalista, conscientizador político; inclusive fazendo uso de suas obras para tal. Chegou por duas vezes a colocar seu nome para disputa do cargo eletivo de  vereador em 1966 e em 1982, nesta ultima usou do seu dom criativo para, humoristicamente, comparar a sua luta com ato impossível, o slogan “POR VOCÊ EU ESCOVO O URUBU ATÉ FICAR BRANCO”. Não tendo o mesmo êxito em nenhuma das duas empreitadas.
Em 1971 mudou-se para cidade, morando inicialmente na rua Dr. Leandro Correia, tendo residido depois nas ruas Raimundo Duarte Bezerra, rua Pe. José Otavio, Cel Antonio Primo, rua Antonio Alves de Lima, rua Dez de Novembro, Praça da Bandeira, e rua Gonçalves Dias, sua última residência.
Conhecido pela responsabilidade e segurança em seus atos, foi eleito em 1976, para secretario do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Várzea Alegre, donde já havia sido sócio fundador.
 Em 1978 teve um grande choque com a   morte de sua mãe, que tanto favoreceu para o crescimento do filho como poeta.
Sua coleção é bastante rica, sendo que a ultima que escreveu foi: “visita de Joaquim Bilé a sua terra natal”, escrita em agosto de 1985.
Os seus trabalhos são de vários tipos estilos e temas, tanto dos gritos dos retirantes com medo da seca, até a façanha de um grande jerimum do sítio Aba da Serra. Do respeito, na poesia, à sua mãe, aos criativos gracejos com a herança deixada pela sua avó. Tendo sido sempre gritante e contundente a marca registrada do poeta, a insatisfação dos agricultores com os governos, a cobranças destes por dias melhores, a luta contra as injustiças sociais, a conscientização e a fé que, “O ESTATUTO DA TERRA VAI  MELHORAR  NOSSA GENTE”.
No quesito técnica, todos os estilos são notificados na poesia do Bidinho, desde a simples quadra ao nobre soneto, o difícil pé quebrado as ricas décimas e bem desenrolados motes.
Na sua vida poética, obteve respaldo como cantador de improvisos, ao lado de grandes nomes da época como Antonio Maracajá “, o gato de Acopiara”, Antonio Gonçalves da Silva, “Patativa do Assaré”.  O Poeta obteve brilhante participação no Concurso Nacional de Poesias da Revista Brasília, tendo sido premiado recebendo diplomas e medalhas, nos anos de 1991, 1992, 1994 e 1995. Raimundo Lucas Bidinho faleceu no dia 23 de agosto 2004.

4 comentários:

  1. Alguém ai do site pode me passar a ISBN do Livro "O Cearense" que eu o tenho mais não informa a ISBN e eu queria Divulgar esse grande Autor Na Internet Através se Um Site de Leitores Chamado Skoob.

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  2. Se alguem ai de de Varzeaalegre se interessar na Divulgção do Livro o Cearense entre em contato com migo meu Email é lordcomedia@gmail.com

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    1. Alguém ai do site pode me passar a ISBN do Livro "O Cearense" que eu o tenho mais não informa a ISBN e eu queria Divulgar esse grande Autor Na Internet Através se Um Site de Leitores Chamado Skoob.
      Email é lordcomedia@gmail.com


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    2. O livro foi publicado de forma independente e não houve o cuidado de atribuir um ISBN ou mesmo catalogar junto á Biblioteca Nacional.

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